“ – Jura dizer a verdade, só a verdade, nada além da verdade?
- Juro.
- Nome, por favor.
- Lorena Vaz Leme.
- Universitária?
- Universitária. Direito.
- Pertence a algum grupo político?
- Não.
- Por acaso faz parte de algum desses movimentos de libertação da mulher?
- Também não. Só penso na minha condição.
- Trata-se então de uma jovem alienada?
- Por favor, não me julgue, só me entreviste. Não sei mentir, estaria mentindo se dissesse que me preocupo com as mulheres em geral, me preocupo só comigo, estou apaixonada. Ele é casado, velho, milhares de filhos. Completamente apaixonada.
- Uma pergunta indiscreta, posso? Você é virgem?
- Virgem.
- Quer dizer que não são amantes. Será ousadia minha perguntar o motivo?
- Ele não quer. Nem me procura mais, faz um montão de dias que nem me telefona.
- Mas trata-se de um impotente? De um homossexual? Se não me falha a memória, ouvi qualquer coisa sobre filhos, não ouvi?
- Ele é um gentleman.
- Ah.
- Mas se me chamasse como a última das moicanas juro que eu iria correndo, correndo, você me chamou? Ia morar com ele num porão, debaixo da ponte, na estrada, no bordel, Lião, Lião...
- Não quero mais brincar, estou tão triste.”  As meninas, Lygia Fagundes Telles.



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